21 outubro, 2011

À sombra do cajueiro




O calção estava roto,mas limpo.Nos pés,um par de tênis grandes demais para os pezinhos de criança.Sem camisa,levava nas costas uma espada de He-Man,(aquela dos desenhos).Parecia um cavaleiro,não fosse os gritos da mãe para tirá-lo da fantasia.Anda,menino,deixa de preguiça!E ele pegava com suas mãozinhas frágeis de talvez cinco anos de idade,um pequeno balde, a vara de tirar cajus e um molho de capim cidreira para o chá.Sua cabeça estava suada e as mãozinhas acariciavam-na como a perguntar se o dia não tinha fim.Sua mãe,dois baldes grandes cheios de caju e outros trecos.O pequenino não aguentava mais andar e a cada cajueiro, sentava um bocadinho à sua sombra.A ilha é bem grande, tem muitos cajueiros, alimenta muita gente.Principalmente a ganância dos produtores que compram por centavos cada gota de suor daqueles pequeninos que acompanham suas mães na luta desigual por um lugar ao sol.Penso que a pasta de caju, a castanha assada ou o doce em calda vendido seja às margens da estrada ou nos supermercados não terão o mesmo sabor para mim,depois de presenciar cena tão triste.
... E ele gesticulava e contava algo à mãe, com mãozinhas pequenas que apanhava os cajus e colocava no balde pequeno.Sua mãe nem percebia que alguém estava ali,preocupada em apanhar, juntar, escolher os melhores,os mais carnudos.Olhava para o alto,pro topo da árvore,procurando no meio da folhagem verdinha,os cajus amarelinhos...
E os dois seguiram adiante,debaixo do sol do meio dia.Sem almoço,sem sonhos,sem perspectivas.Até a próxima sombra do cajueiro...

Linda Simões

imagens-net

9 comentários:

TALITA disse...

Oi amiga

me desculpe, tô em falta com vc.
meu tempo tem sido curto e o trabalho é demais. Más sempre procuro um tempinho para visitar vc. Gosto muito deste post.
Beijinhos

ass: Talita

manuela baptista disse...

na ausência de sombra

a sombra do cajueiro
é o inferno do menino e da sua mãe

indiferente
à conversa do filho, porque tão diferente e igual é a sua própria vida

o sabor do caju, nunca mais será o mesmo

e pensar, que é exacatmente isso que os alimenta?

um beijo Lindinha

manuela

Anônimo disse...

Um tema que não pode passar indiferente a ninguém, contudo ainda tão presente mesmo nos países ditos civilizados.
Quanto suor, quanta dor, quanta escravidão para ganhar direito a uma migalha que mal mata a fome.
Que vergonha de viver neste tempo de tanta fome e tanto desperdício.

Beijinho, Linda!

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Lindinha,


Era uma vez um menino
cavaleiro de seus sonhos
prisioneiro de um amor primeiro


Beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Outubro de 2011

Anônimo disse...

Ana, boa noite!
Porque a pobreza e a fome existem, crianças como esta que aqui descreves, habitam os quatro cantos do mundo. Para elas, não há lugar para o sonho, os dias são vividos sem fantasias e com suor e lágrimas.

Que vergonha, o rosto da fome tem olhos de criança!

Beijinho amigo,
Ana Martins

Vinicius Carvalho disse...

Gostei muito deste espaço!!

Desejo a você um dia abençoado!

Espero por você no Alma!

Saozita disse...

Olá Linda, esta história que contas, arrepia-nos, infelizmente é a triste realidade de um mundo feito de desigualdades em todos os aspectos, mas mais marcante é pois a desigualdade no ponto de partida, o nascimento de um ser humano... esta criança, não tem as mesmas oportunidades que as nossas têm tido. É doloroso saber isso. Resta-nos não desistir e denunciar estas situações que são a vergonha de todos nós.

Tem uma boa semana.
Beijinhos

Sãozita

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Minha amiga Linda, e não só de nome!

Venho hoje trazer-te um beijinho e agradecer a conversinha de ontem.

Abraço

Saozita disse...

Linda, paço para te dsejar uma óptima semana.

Beijinhos

Sãozita